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08 dezembro 2005

O professor Cavaco

A resposta de Francisco Louçã (ver este poste) levanta algumas questões muito interessantes sobre a candidatura presidencial de Cavaco Silva, nomeadamente sobre o perfil desejavel para um Presidente da República e sobre a actual capacidade do Professor.

1. O PR ideal.
Já muito se disse sobre o perfil adequado para o presidente da república. Entre verdades, falácias e disparates, parece que os próprios candidatos, embora no seu discurso reconheçam as limitações do poder presidencial, querem criar na opinião pública a ideia de que terão um papel mais importante do que aquele que todos sabemos que irão ter. Embora o papel PR não seja apenas de mestre de cerimónias da democracia como muitas vezes chegámos a pensar durante a presidência de Jorge Sampaio, também não vai tão longe como muitos candidatos gostariam.

Representar o país, avaliar (promulgar ou vetar) as leis, ser o Chefe Supremo das Forças Armadas e co-responsável pela política externa do país exigem que competências? É essencial ter a formação humanista que Soares convenientemente apresenta? Um tecnocrata como fazem parecer Cavaco é a pessoa errada para o cargo?

A questão da formação humanista, quanto a mim, apenas desprestigia o cargo, pois é quase como um assumir implícito de que o PR apenas serve para aparecer nas cerimónias e fazer discursos bonitos com muitas referências aos clássicos para o povão ficar embevecido com a sua retórica e capacidade discursiva. Por outro lado, claramente que um tecnocrata puro seria inadequado, como é inadequado para qualquer função executiva em que se egixa a tomada de decisões e a assunção de responsabilidades. Para tecnocratas há muitas vagas de assessores.

Parece claro que é essencial visão estratégica e uma competência transversal pois acabam por passar pelo PR decisões sobre todas as áreas. Afirmar que deve ser um jurista porque só um jurista deverá validar leis ou que deve ser um economista porque é essa a principal preocupação do país é tremendamente redutor. A formação de base é apenas o alicerce onde se foram acumulando os conhecimentos posteriormente adquiridos e toda a experiência da vida pessoal e profissional. É preciso ir mais fundo do que isso.

2. Cavaco ainda sabe nadar?
Francisco Louçã tem inteligentemente tentado minar um pouco a imagem de competência de Cavaco, ao comparar a produção científica de ambos nos últimos 10 anos. Louçã, docente de economia, além de participar activamente na vida política, tem publicado trabalhos científicos que nem um louco. Cavaco, que apenas se tem dedicado à sua actividade docente, só tem escrito artigos de opinião nos jornais e cartas à família.

Embora à primeira vista até pareça que os detractores de Cavaco tenham alguma razão neste ponto, não nos podemos esquecer que Cavaco sempre foi mais homem de acção do que palavras e não podemos avaliar a sua lucidez e competência a partir do seu discurso. É claro que Cavaco não tem os dons de oratória que têm Soares, Alegre e Louçã. Mas, tirando Louçã, também não reconheço aos outros grande competência para além dessa habilidade retórica. Por outro lado, e como já referi acima, não podemos esquecer que as competências necessárias para se ser PR são diferentes daquelas necessárias para se ser PM, pelo que questionar as competências actuais de Cavaco para desempenhar o cargo de PM é apenas criar ruído e desviar as atenções do essencial.


-- pequeno aparte --

Além disto, Soares (provavelmente num dia em que não tomou a sua medicação) teve a coragem de dizer (sem se rir) que Cavaco teve a vida facilitada porque ele lhe tinha deixado o país um óptima situação e que Cavaco mais não tinha feito do que gerir os excedentes que soares havia deixado. Soares ou perdeu a memória ou acha que os portugueses são idiotas para ter o desplante de dizer tal barbaridade. Como é possível dizer um disparate destes quando foi a condução do país de Soares que obrigou à intervenção do FMI? E como é possível que os jornalistas ouçam tamanhos disparates e mentiras e não questionem as pessoas? Anda toda a gente a tentar reesecrever o passado da forma que mais lhe convém?


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1 Comments:

At 4:41 da tarde, Blogger TheOldMan said...

Caro Sniper, parabéns pelo lançamento "a solo".

Quanto ao perfil para PR, tenho uma opinião muito particular sobre o caso.

Embora considere que a formação pode ser importante; acho que quem colocou o limite mínimo da idade em 35 anos, sabia bem o que estava a fazer.

Trata-se de uma idade a partir da qual já se pode ver em que é que determinado candidato se tornou e o que poderá (com uma confortável percentagem de sucesso) vir a ser no futuro.

Aparentemente, todos os que vi até agora andam, com maior ou menor sucesso, a tentar passar por pessoas cordatas, educadas e politicamente correctas.

O que nos dá uma boa ideia sobre a opinião que eles têm sobre o cargo de PR, e também sobre a nossa ingenuidade.

Não se trata, penso eu do que eles prometem ou aparentemente saibam fazer, mas do que será mais provável que nos façam caso tenham possibilidade.

Um abraço e boa continuação de blog.

;-)

 

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