o sniper esmiúça o sócrates

este blog não gosta do sócrates

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24 janeiro 2006

Eu nem queria ir por aí

Mas agora fartei-me e vai ter mesmo que ser.

Eu já expliquei abaixo que nem acho que Cavaco tenha o perfil ideal para Presidente da República, não era o candidato da minha preferência e não votei nele. Mas, o que é facto é que ele ganhou democraticamente e será o novo PR.

Mas tenho circulado pela blogosfera e tenho ficado muito desiludido com o mau perder e falta de espírito democrático de muita gente. E digo isto como crítica a duas posturas que parecem moda e que não têm lógica nem cabimento democrático.

A primeira postura que eu critico é aquela de considerar que Cavaco não tem grande legitimidade porque "só" teve 50,6% dos votos sendo, segundo o STAPE, o presidente eleito com menos votos. Dizem que assim, Cavaco não tem legitimidade para ser o presidente de todos os portugueses, como foi Mário soares, por exemplo. O que se esquecem de dizer é que Cavaco foi eleito à primeira volta, enquanto que Mário Soares à primeira volta não foi lá. Também se esquecem que as sondagens apontavam resultados claramente esmagadores para eventuais segundas voltas contra Alegre ou Soares. E também não nos podemos esquecer que Cavaco teve mais cerca de 200 000 votos que Sócrates há menos de 1 ano, e ninguém critica o PM ou o governo por falta de legitimidade democrática. Por isso, minha gente, deixem de brincar com os números e aceitem os factos.

A segunda questão tem a ver com vários blogs que têm classificado os que votaram Cavaco de burros, iludidos, anti-democráticos e coisas do género. Essa é uma postura que me irrita profundamente em certas pessoas de esquerda (tal como há pessoas de direita assim), que consideram que democracia é a esquerda ganhar sempre e todos concordarem com as suas ideias "obviamente" superiores, pois são de esquerda. Essa postura pedante e anti-democrática seria comicamente irónica se não fosse tão trágica e triste. Democracia é aceitar as opiniões e opções dos outros mesmo que sejam contrárias às nossas.

E era isto que eu tinha para dizer. Agora podem começar a chamar-me fascista, anti-democrata, etc. O que é engraçado é que votei Garcia Pereira. Ficámos em último (mesmo atrás dos brancos e dos nulos), mas não é por isso que me vou armar em parvo e brincar às demagogias.


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32 Comments:

At 1:15 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O mau exemplo começa, infelizmente, pelos próprios candidatos que mal acabada a eleição e depois de afirmarem um a um orgulhosos de terem telefonado ao Cavaco a dar os cumprimentos democráticos, se põem a explorar análises de intenções do eleitorado. Inclusivamente ouvi afirmações do tipo: o Cavaco ganhou porque a divisão do PS provocada por Alegre fez ‘eleitores do PS’ votar Cavaco. !!! como? O que é isso de eleitores do PS? A democracia agora é um feudo? Os eleitores chamam-se assim porque elegem quem querem, senão chamavam-se seguidores ou delegados.

Para além disso fica mal aos próprios dirigentes andar a falar assim publicamente sobre como o eleitorado é manipulavel –se eles pensam mesmo assim então tratem dessas análises internamente junto dos seus acessores de campanha e para a próxima manipulem melhor.

Já existem bastantes analistas políticos com credibilidade para discutir esses ‘erros’ estratégicos e afins…

Quanto aos que dizem que os que votaram em Cavaco são burros só posso concordar porque presumo que todos os que votaram nesta eleição sejam portugueses.

 
At 1:19 da manhã, Anonymous Anónimo said...

não resisto a fazer eco disto que vi no abrupto:

«TRUMAN SHOW À PORTUGUESA

O que se joga na noite de hoje está, há muito, preparado por José Sócrates. Está tudo equacionado para o segundo ou terceiro lugares e o líder do PS torce por uma maioria absoluta, pois é a oportunidade de se livrar dos soaristas e de desafiar Alegre no próximo congresso.
Sócrates é o realizador de um Truman Show à portuguesa, mas com dois Jim Carey's.»

Pedro Gouveia Alves

 
At 10:35 da manhã, Blogger Madalena Duarte said...

Não tem a ver com anti-democracia, mas, com o desânimo que, numa democracia, pode, felizmente, ser expresso. Em democracia cada um vota em quem quer, numa democracia quando um se indigna com o que quer e pode expressá-lo publicamente.

 
At 10:48 da manhã, Blogger naked sniper said...

Ariel,

concordo plenamente contigo. mas para tudo tem que haver bom senso e razoabilidade.

e quem mais perdeu com essa falta de razoabilidade foram os candidatos de esquerda. ao tentarem vender Cavaco como ditador e etc só perderam credibilidade junto do eleitorado

 
At 11:39 da manhã, Blogger Madalena Duarte said...

O que eu acho é que as pessoas têm memória curta e muitas votam num candidato ou partido como quem pertence a um clube de futebol. Não lêm programas eleitorias, não vêem debates, não analisam os manifestos, etc, etc. Obviamente que isso vale para os de direito, para os de esquerda e para aqueles são dos partidos políticos porque os paizinhos também o são. Agora, na minha humilde opinião, que vale o que vale, acho difícil alguém em consciência, depois de ver os debates, ouvir algumas barabaridades xenófobas vindas do dignissimo PR, votar Cavaco com grande convicção. Ou de facto pensam assim, ou então a nossa democracia está realmente doente. No fundo, o que muitos americanos sentem com a eleição do Bush. Esta é apenas uma opinião, claro. Mas a mim, como sabes, os conservadores causam-me alergia. Por isso, fico muito satisfeita de depois de teres reflectido votares à esquerda. A reflexão é prova de inteligência.

 
At 11:49 da manhã, Blogger naked sniper said...

Ariel,

a democracia está doente quando o PS não consegue mobilizar nenhum dos seus presidenciáveis mais fortes e faz aquela novela Alegre/Soares e depois ainda fica surpreendido quando um candidato que passou vários anos a preparar esta candidatura ganha

a estória do "qualquer um menos Cavaco" só mostra o desespero de quem não encontrou alternativas válidas.

Alegre e Soares também disseram grandes disparates e pouco conteúdo na campanha. mas como são de esquerda há que desculpar porque o Cavaco é que é perigoso

 
At 11:49 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Não é definitivamente o meu presidente de escolha...
Mas sei aceita-lo como democrata...

Embora ache grande parte dos portugueses não se apercebe que tal senhor foi... Porque realmente, como alguém laranja disse há umas semanas, Cavaco é como um eucalipto. Seca tudo à sua volta....
De longe querer manipular qualquer cavaquista com a minha afirmação... É apenas uma opinião que tenho e mantenho...

E como gajo de esquerda, claro que para mim as politicas de esquerda são melhores (não são é as actuais!) e gostaria que a esquerda tivesse ainda um maior peso em Portugal... Mas a democracia é assim...

De esquerda, mas democrata...

"De pé ó vitimas da fome..."
Agora vou fazer um intervalo para um lanche!

P.S.: Acho que este é de longe o meu maior comentário a um post!!!

 
At 11:50 da manhã, Blogger naked sniper said...

Gomezzz,

obrigado por me brindares com a honra do teu maior comentário a um poste.

admiro bastante a tua postura democrática

 
At 12:24 da tarde, Blogger Madalena Duarte said...

Sniper, o facto de eu achar que qualquer um dos candidatos à esquerda é preferível ao cavaco´não é uma postura anti-democrática. É coerente. Se sou de esquerda, não gosto do Cavaco (concordo aliás com muito do que o gomez disse), porque acharia que ele é melhor que algum dos restantes? A novela do Alegre e Soares foi lamentável, bem sei, mas isso nada tem a ver com a minha noção de democracia. Certo que disseram algumas barbaridades, no entanto, na minha opinião, ficam bem aquém das proferidas pelo Cavaco. Aliás, o Cavaco se não disse mais é porque optou pela estratégia pouco democrática do sil~encio na camopanha, para terem as suspresas depois. Era um candidato. Quem quis votar nele votou, com toda a legitimidade. A mim não me agrada. Paciência

 
At 12:27 da tarde, Blogger naked sniper said...

Ariel,

não te chamei anti-democrática.

apenas acho que a culpa da vitória fácil do cavaco é do PS, que só vem falar mal do Cavaco porque não conseguiu arranjar bons candidatos

 
At 12:43 da tarde, Blogger Bart Simpson said...

Sendo muito objectivo: no teu terceiro parágrafo, dizes que cavaco foi eleito democratica e legitimamenmte. Claro que sim. Infelizmente sim. Se a dispersão dos votos não tivesse sido tão grande, se os brancos contassem de facto e se os eleitores tivessem memória, cavaco não seria eleito.
Má campanha da esquerda? Talvez, com muitas responsabilidades, mas também dos "media" que permitiram dar uma imagem de salvador...

Sobre o parágrafo seguinte, considero é que quem votei em branco e/ou nulo não estava devidamente informado. Nestas eleições, de nada servia ter esse tipo de atitude. Noutras sim, nestas não. Cada um que assume o que quiser, mas cavaco não é nem será o meu presidente. Aceito-o como tal (não vou atirar coktail molitof para Belém), mas tenho muito receio do que possa vir a acontecer da "amizade" cavaco/sócrates.

 
At 12:57 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem, por essa cabeça vai alguma confusão. O s que as pessoas devem dizer, não é isso. Não são merecedores da democracia, os votantes em Cavaco. Dizer isso, é um grande erro. Quem não merece um regime democrático são aqueles que abstiveram, e que por isso se estam a cagar para a democracia.

 
At 2:51 da tarde, Blogger naked sniper said...

Bart,

levantar cenários sobre algo que já aconteceu é perda de tempo. Há que analisar o que aconteceu e não o que poderia ter acontecido

quanto às razões de quem votou nulo e em branco, a única coisa que se pode fazer é especular. certamente que alguns terão tido voto nulo por distracção ou falta de informação, outros por opção. quais os números e percentagens? nunca saberemos

 
At 2:54 da tarde, Blogger naked sniper said...

Zé do pau,

mesmo essa tua última afirmação é polémica.

como dizia não me lembro agora quem:

"discordo de tudo o que disse, mas tudo farei para que tenha a liberdade de o dizer"

aqui eu adaptaria para:

não concordo com a abstenção, mas defendo o direito de todas as pessoas poderem votar, mesmo que elas depois prescindam desse direito

 
At 3:03 da tarde, Blogger moça do filete said...

deixem-me só acrescentar que os votos nulos e brancos tb são contabilizados, já que alguém para ser eleito precisa de 50% dos votos válidos, logo se mais de metade votar em branco ou nulo, a eleição não contaria!
não sei se me expressei bem, mas o facto é que tb conta o número de eleitores! por isso o voto em branco/nulo tb pode ser um acto de inteligência....e quando as opções de escolha não são as melhores...o branco/nulo torna-se ele uma opção!
ah! só mais uma coisa
já que falam em democracia, e liberdade de escolha, não percebo porque se insurgem contra quem optou por votar em branco/nulo, pensem nisso!

 
At 3:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nas últimas eleições, votei em branco... Para a CM de Lisboa. Considerei que nenhum dos candidatos me enchia as medidas com presidente do meu município...

Assim, posso dizer que marco a minha posição, e deixo que quem realmente conhece até bem melhor os candidatos, que o eleija por mim... Não estava informado o suficiente!

Mas abster-me não! É um direito, um dever que tenho com o meu país... Só assim posso protestar pelo emprego médio que tenho, pelo gásoleo caro que tenho, pelo IRS misero compatível com o ordenado que tenho...

E irritam-me que haja pessoas que não queiram votar por comodismo!

 
At 3:29 da tarde, Blogger naked sniper said...

moça do filete,

é precisamente essa tua última afirmação que eu ando a tentar defender.

 
At 3:31 da tarde, Blogger naked sniper said...

Gomezzz,

concordo contigo

mas abster-se é também uma opção e um direito que as pessoas têm.

mesmo discordando, há q respeitar

 
At 4:40 da tarde, Blogger Manelito said...

Sniper, não posso estar mais de acordo quando dizes: "não concordo com a abstenção, mas defendo o direito de todas as pessoas poderem votar, mesmo que elas depois prescindam desse direito".

No entanto, quem sistematicamente adopta essa postura deveria prescindir desse direito a título efectivo.

Era da maneira que, no caso de um referendo (por exemplo), teríamos os votos suficientes para aprovar (ou não) uma medida que nos toca a todos.

Também concordo com a Ariel quando diz que "O que eu acho é que as pessoas têm memória curta e muitas votam num candidato ou partido como quem pertence a um clube de futebol. Não lêm programas eleitorias, não vêem debates, não analisam os manifestos, etc, etc."

Se calhar é isso que leva as pessoas a desabafar que há quem não devesse ser elegível para participar num sufrágio universal.

 
At 4:57 da tarde, Blogger naked sniper said...

Manelito,

realmente essa é uma questão interessante.

Por exemplo, no sindicato, quem não pode ir aos conselhos nacionais costuma suspender o seu mandato por esse dia para que exista quorum mínimo para as decisões poderem ser tomadas

mas não sei como se poderá "atacar" esse problema

e agora com um pouco de provocação. achas que os partidos de esquerda iriam apoiar esse "corte de direitos"? (mesmo sendo os de esquerda que mais se queixam neste momento). não será ideologicamente contra os princípios de esquerda essa proposta?

 
At 9:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Acho que fizeste bem em votar Garcia. Eu também o fiz, em tempos idos, para ficar no curriculo. Para a próxima vota em branco, na democracia...

 
At 9:54 da tarde, Blogger naked sniper said...

jerónimo,

eu voto como quiser

não mandas em mim

 
At 12:02 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eu ainda acho que como dever cívico toda as pessoas deviam votar...
E por aí marcarem a sua posição!

Para mim, absterem-se de opinar (votar) é aliar-se dos destinos do pais a que todos toca!

Para isso temos o voto embranco. Não dou dicas e espero que alguém mais literado ou esclarecido por mim o faça.

Mas isto sou eu. A minha opinião...

 
At 12:04 da manhã, Blogger naked sniper said...

pois é, Gomezzz

mas infelizmente há muita gente que não pensa assim

 
At 2:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

um esclarecimento para a moça do filete: na eleição para presidente da republica os votos brancos ou nulos não são considerados para os (50%+1 voto) necessários.

É curioso observar a necessidade que as pessoas têm de arranjar explicações quando as coisas correm mal.
Há gente a sugerir que foi falta de informação dos eleitores (porque se os brancos e nulos tivessem todos ir parar contra Cavaco, ele não seria já presidente). Há quem não compreenda que a abstenção é uma realidade que pode ser combatida mas nunca erradicada – no fundo cada eleição é como uma enorme sondagem – presume-se que a parte que fica fora da amostra tem o mesmo comportamento. Eu concordo que se combata a abstenção a começar com a credibilização da política (convenhamos que o poder de decisão do povo é ridículo comparado com os jogos de bastidores que são no fundo a política toda). A eleição acaba por ser, na perspectiva dos políticos, uma formalidade a cumprir. Mas tudo isto são queixas que eu subscrevo em relação à política que existe todos os dias – não é só no dia em que o Cavaco é eleito.

 
At 12:56 da tarde, Blogger Nelson Santos said...

Curiosamente, um dos maiores defensores da obrigatoriedade de voto é Alberto João Jardim.
Curiosamente, a esquerda da ilha, mal o presidente vitalício do Gov.Regional abriu a boca para falar sobre o assunto, acusou precisamente de querer cortar os direitos cívicos dos eleitores (incluindo o de não votarem).
Coisas da democracia muito sui generis desta bela ilha!

 
At 10:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

sniper,

tu votas como eu quiser,

eu mando em ti.

 
At 10:53 da tarde, Blogger naked sniper said...

nuno,

subscrevo quase todas as tuas palavras.

as que não subscrevo são:

erradicada

amostra

bastidores

 
At 10:54 da tarde, Blogger naked sniper said...

Nelson,

em todas as discussões encontramos do nosso lado pessoas que preferíamos ver do outro lado e vice-versa.

mas a esquerda é muito engraçada em exigir tudo o que é direito e abomina ouvir falar em deveres. Ganhou o Cavaco e tudo mudou

pelo menos por uns dias

 
At 10:55 da tarde, Blogger naked sniper said...

jerónimo,

tu queres ver q eu tenho q me chatear

ainda que fosse uma dominatrix a mandar em mim, tudo bem. Agora um escuteiro!!!

 
At 1:49 da tarde, Blogger Manelito said...

Olá, Sniper.

Quanto a uma medida para atacar o problema, aqui está uma hipótese:
Quem não votar sucessivamente em três actos eleitorais e/ou referendos, tem o seu poder de voto suspenso por igual período.

Ou seja: quem prove, na prática, que não mostra interesse em usar o seu poder de voto, vê esse poder retirado - em consonância com o seu comportamento!


Quanto à provocação, acho que os partidos de esquerda seriam contra, apesar de porventura saírem como os mais beneficiados. Mas isso é uma questão interna deles, tal como a minha posição é minha: não depende de ordens superiores.

Cumprimentos.

 
At 2:46 da tarde, Blogger naked sniper said...

Manelito,

Essa é uma proposta interessante, não haja dúvida.

Continua a aparecer

 

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