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05 janeiro 2006

O copianço

Já todos devem conhecer este artigo do DN, que revela um estudo que indica que mais de 60% dos estudantes universitários admite copiar nos exames.

Por mim, tenho a dizer que fiquei surpreendido. E fiquei surpreendido porquê?

Primeiro, porque (e eu sou professor) não tinha ideia de que o fenómeno fosse tão significativo. Mesmo quando era estudante (e não foi assim há tanto tempo), sempre me pareceu que era um fenómeno relativamente marginal. Havia alguns "espertos" que copiavam, mas a grande maioria não se metia nisso. Agora, 60% é um número bastante elevado, que faz pensar nesta questão. E ainda mais no Alentejo, onde os valores atingem os 75%.

A segunda questão que me surpreende é o facto de os alunos considerarem que as sanções não são sérias. Realmente, na maioria dos casos (e eu admito que faço o mesmo), em vez de os professores cumprirem o regulamento disciplinar e instaurarem um processo disciplinar aos alunos apanhados a copiar, o que se faz é dizer ao aluno para desistir de forma a salvar a face e não ficar com o currículo manchado. E eu faço isto porque, para mim, quando aluno, esta penalização era mais do que séria. Mais do que ter uma anotação qualquer no meu currículo escolar, assustava-me a possibilidade de ser considerado cábula. Podem achar idiota, mas prezo muito o meu bom nome e seria para mim vergonhoso ser apanhado a copiar. E por isso, choca-me que os alunos "se estejam a cagar" para a sua imagem e bom nome.

Não me surpreende, mas também me preocupa que o estudo demonstre que existe um ambiente favorável à cópia. É o já proverbial nacional porreirismo. Ninguém se chateia de ver colegas a copiar e não faz nada quanto a isso. Aliás, se um aluno denunciar um colega que esteja a copiar, quem fica mal visto e recebe sanções sociais é o "bufo". Aliás, ainda me lembro da surpresa que foi para mim quando um colega meu que foi de ERASMUS me contou que os holandeses (para onde ele tinha ido) não o deixavam copiar por eles nos exames (mesmo quando o prof abandonava a sala a meio da prova) e o ameaçavam que se ele persisitisse na tentativa teriam que o denunciar

E é tudo o que eu tenho a dizer sobre este tema. Obrigado pela atenção.


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13 Comments:

At 10:34 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Mas tu es professor de quê, contabilidade?

tens 2 erros na tua analise:
- 0s 60% referem-se a copiar em geral. Muitos d enos copiamos num ou noutro exame, a percentagem que copia sempre que pode é seguramente menor.

- assumes que os teus alunos tem as mesmas ideias e medos que tu. Não é verdade, eles estão-se a cagar para a reputação academica desde que possam exibir o curriculo mais tarde.

E sim, poucos dos que copiam sabem que sao eles mesmos quem mais se prejudica. Mas isso nao interessa nada, pois não?

 
At 10:39 da manhã, Blogger Zozô said...

Pois, é essa falta de consciência que já cultivamos no meio escolar que depois tem continuidade na falta das "sanções sociais" que falas quanto ao alcoól na estrada até à evasão fiscal. Tudo é tolerado neste país, tudo é aceitável para "desenrascar".

 
At 11:17 da manhã, Blogger naked sniper said...

Caro Neves,

Realmente, não sei se os 60% se referem aos que copiam regularmente ou apenas de vês em quando. Não fiquei esclarecido pelo artigo.

Não assumo que eles têm as mesmas ideias e medos do que eu. Mas assusta-me o pouco valor que eles atribuem a coisas que para mim eram muito importantes. Claro que há alunos e alunos, mas já não sei quais deles serão a maioria.

E é verdade, são eles quem mais perde com isso. E apenas o perceberão tarde demais.

 
At 11:20 da manhã, Blogger naked sniper said...

Afrodite,

tens muita razão. a permissividade é demasiado grande e o que é velorizado socialmente é o desrespeito. os "heróis" da sociedade são os que conduzem a 200 e se gabam de fugir aos impostos, quando esses deveriam ser considerados marginais

e depois o mau da fita é sempre o fiscalizador. por exemplo, os alunos acham que o mau da fita é o professor que lhes anula o exame quando os apanha a copiar. e nós achamos que o mau da fita é o polícia que nos multa por termos desrespeitado o código.

 
At 6:22 da tarde, Blogger Célia said...

Realmente, a mim parece-me que os 60% se referem a todos os tipos de copianço e não apenas ao tipo de copianço sistemático.
Terminei a miha licenciatura há cerca de um ano e mentiria se dissesse que nunca "troquei impressões" com colegas durante as frequências. Aliás, acho que a percentagem de alunos que o faz é maior que os 60 %... De notar que trocar impressões é diferente de copiar, vai mais no sentido de dar e receber dicas. E fiz tanto uma coisa como outra. Nunca conheci ninguém que não o fizesse, até a pessoa mais inteligente da minha turma. E também nunca conheci nenhum caso em que tivesse sido denunciado por um aluno uma situação de cópia.
Também acho importante referir que o professor que estava, supostamente, a vigiar-nos, passava (e assisti a isto muitas vezes)o tempo todo a ler o jornal e tanto lhe dava que copiássemos ou não. Se os professores fizerem uma fiscalização rigorosa as hipóteses de copianço reduzem drasticamente.
No fundo, acho que isto tem muito a ver com quem nós somos, o povo português, com o qual não me identifico em muitos aspectos, mas pelo qual acho que todos nós acabamos por ser influenciados, quer queiramos ou não.

 
At 6:25 da tarde, Blogger Célia said...

Acabei por não referir uma coisa importante: não concordo de forma alguma com obter coisas (neste caso boas notas) por mérito dos outros. E isso nunca fiz, até porque nem me ia sentir bem.
A minha opinião foi mais no sentido de demonstrar como pensa o outro lado (neste caso, os alunos).

 
At 1:29 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Para mim "dar e receber dicas" é copianço."trocar impressões" ... é copiar. copiar, no contexto de exames, é todo o tipo de "auxilio" que um aluno tem para responder às questões que lhe são colocadas.
devo confessar que nunca o fiz. tive mtas oportunidades, mas o receio de ser "apanhada" era maior. no fundo pesando as vantagens e desvantagens do copianço ... achava que não valia a pena correr o risco

 
At 2:59 da tarde, Blogger naked sniper said...

canochinha,

realmente, há muitos professores que convidam ao copianço

mas, no limite, cada aluno é que decide se aproveita a deixa ou não

a ocasião faz o ladrão, mas só a aproveita quem quer

 
At 3:02 da tarde, Blogger naked sniper said...

watcher,

acho que, se não houvesse esse risco, todos copiavam.

mas, pelo que diz a notícia, apesar do risco de serem apanhados, os alunos consideram que as consequências não são graves. é como a estória do valor das multas.

 
At 4:52 da tarde, Blogger Célia said...

Claro que era muito mais fácil para mim chegar aqui e dizer: eu nunca copiei, sou totalmente contra, etc. etc. Mas aí estaria a mentir. Para mim, copiar descaradamente é do estilo outra pessoa resolver um exercício inteiro e eu chego lá e copio tal e qual. Outra coisa é dizerem-me o resultado e eu ter de chegar lá sozinha. Mas enfim, são opiniões e cada um tem as suas. Nunca senti peso na consciência por trocar dicas com os meus colegas. Mas também nunca copiei descaradamente nem deixei que o fizessem em relação a mim.

 
At 7:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu sou contra copiar. Como foi dito quem sai prejudicado é o próprio. No entanto devo sugerir a existência do copianço político: quando o respeito que o próprio professor tem pela disciplina e a mensagem transmitida aos alunos é tão débil só um fundamentalista joga pelas regras. Infelizmente isso em Portugal não é assim tão raro. Encontrei vários professores (2 ou 3) no curso que não faziam ideia do seu contributo para curso (seja por má coordenação do curso ou por incompetência pura) resultando que ninguém, incluindo os alunos, chegava a perceber os objectivos da disciplina e a forma de avaliação. Houve casos caricatos em que ninguém sabia o que estudar e que as notas pareciam atribuídas conforme o número de páginas que se conseguia forjar. Tive disciplinas que pareciam existir para encher horário e na hora do exame fui lá cumprir o protocolo e despachar o assunto. De qualquer modo, normalmente esses professores não têm coragem para chumbar alunos sendo que a vingança típica é darem notas muito baixinhas –talvez os faça sentir professores exigentes, génios incompreendidos…


Quanto à outra questão sobre o carácter do português (o Português Suave, o nacional porreirista) não sei bem porquê mas julgo que a culpa é do Sol.
Se repararmos bem os países Europeus com mais corrupção são os Mediterrâneos (com a Itália em destaque).
Depois também é sabido que quanto mais perto do Equador pior as coisas funcionam.
Não sei explicar o processo – o Sol deve dar na mioleira da malta e ficamos assim um pouco moles, indolentes, simpáticos mesmo, sem nos importarmos com a merda que vai à nossa volta e sem fazer nada para mudar isso.
Propunha como medida de urgência a distribuição gratuita de bonés pelo governo e a implementação de leis severas contra a circulação sem boné em horas de sol.

 
At 10:10 da manhã, Blogger naked sniper said...

canochinha,

tal como em tudo, há pessoas q copiam com moderação e outros que copiam sofregamente.

por outro lado, também há quem saiba copiar com arte e raramente seja apanhado e depois há aqueles que querem copiar e não sabem bem como. esses normalmente não se safam

 
At 10:13 da manhã, Blogger naked sniper said...

nuno,

naturalmente que alguns professores têm um papel muito importante nestas questões, tanto pelo pouco respeito que fazem ter pela sua disciplina como pela permissividade nas vigilâncias.

no entanto, e tu também sabes isso, há alunos que copiam por sistema, não o fazendo apenas para algumas cadeiras.

quanto à 2ª ideia, apoio se puder ser um sombrero ou um chapéu dominicano

 

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