O dia em que eu disse que me chamava Carlos Jorge dos Anjos Martins
Suponho que todos tenham já lido no Abrupto ou, pelo menos, ouvido falar disso por aí. O Pacheco Pereira coligiu um conjunto de leis sobre so debates na blogosfera.
A coisa até tem a sua piada. No entanto, há uma lei que corresponde a uma clara indução abusiva e que mostra que JPP chegou tarde à internet e ainda não compreendeu bem o modus operandi de muitas pessoas que não descobriram a internet através da blogosfera.
Falo, é claro, da segunda lei do Abrupto referente ao anonimato, que passo a transcrever:
"SEGUNDA LEI DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA
A ferocidade dos comentários está em relação directa com o seu anonimato mais o número de comentários produzidos por metro quadrado de ecrã / dia.
NOTA 1: O genuíno comentador anónimo da blogosfera tem um nick name, deseja ao mesmo tempo ser anónimo e ter uma identidade como comentador, reconhecida nas caixas de comentários.
NOTA 2: O comentador anónimo com nick name escreve compulsivamente em todas as caixas de comentários abertas que encontra, escolhendo de preferência as dos blogues com mais leitores.
NOTA 3: Os comentadores anónimos seguem em absoluto a PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO."
O Sr. Pereira, ao assumir que o nickname é apenas uma forma de obter imunidade para comentar de forma agressiva, está a ignorar a origem dos nicks na internet.
>O que eu vou dizer agora a seguir é muito inspirado no que li num outro blog qualquer um dia destes, mas que não consigo lembrar onde foi.>
Tal como muitos jovens da minha idade, que têm acompanhado a internet desde há vários anos, experimentei muitas plataformas, formatos e outras coisas que agora não interessam apra o caso. Certamente que muitos se lembrarão de conversas tidas no MIRC, de fóruns a que pertenceram, etc. Nesses locais, toda a gente (porque éramos jovens e tal) tinha um nick name. É certo que havia sempre um JoãoLx25 ou uma Marlene 38DD, mas a maioria do pessoal adoptava um nick name. eu, por exemplo, identificava-me no MIRC (que apenas utilizava para falar com amigos e nunca para me meter a engatar miúdas de 16 anos) como Cerelac. No fórum Labrego fui o BBoleiro por uns tempos. Depois, quando começámos no Pano do Pó, adoptei o nick de naked sniper que tenho mantido até hoje.
Tal como eu, muitos bloggers entraram nesta esfera com o nome pelo qual eram conhecidos em qualquer outro círculo. E, vistas bem as coisas, e como (tirando algumas excepções) só algo recentemente é que começaram a entrar na blogosfera pessoas mais conhecidas, era tão anónimo eu identificar-me como naked sniper ou como Carlos Jorge dos Anjos Martins. E será perfeitamente igual para o Sr. Pereira que eu me identifique por um nick ou pelo meu nome, ele não me conhece de qualquer das formas. Essa é uma questão que só faz sentido nas tertúlias blogosféricas dos amigalhaços de Lisboa, que se conhecem todos e poderão realmente aproveitar o anonimato para dizer coisas que não têm coragem de assinar.
Mas isso, caro JPP, apenas faz sentido para uma piquena minoria dos bloggers que andam por aqui
13 Comments:
Para mim faz, e muito.
Além de me ter iniciado (na era pré-Net)nas BBS's, e o último sítio onde parei terem sido os newsgroups; também não venho para aqui tentar dar a conhecer a minha "identidade secreta".
Abraço.
;-)
Bem dito, mas acho que essa onda do "comentário agressivo" está já a passar. Normalmente, os "comentadores agressivos" pretendem apenas fazer publicidade desenfreada ao seu cantinho, para depois o deixarem morrer passados 2 ou 3 meses. Não é para me armar em velho do Restelo (até porque deixo morrer muitos dos blogues que crio, e tal) mas sinto que se algum dia as figuras públicas deixarem de utilizar a blogosfera, o pessoal que cria blogues "porque é giro e está na moda" irá desaparecer todo.
(Uiiii, este comentário foi um pouco agressivo... Será que o meu blog tem os dias contados??)
Velho amigo,
tudo bem, mas não usas o teu anonimato "para o mal". e essa parece a premissa do JPP
carca,
é precisamente isso.
mas para os velhos lobos da internet, que não se conhecem nem vêm de outros meios, o nick vale mais do que qualquer nome
aliás, valorizo muito bloggers que foram criando o seu nome na blogosfera, como valorizo aqueles que utilizam a blogosfera apenas como mais um meio para difundir as suas ideias.
um dos grandes valores da blogosfera é que todos têm acesso e podem emitir a sua opinião. depois o "mercado" faz a escolha.
claro que trazer um nome de fora, como o VPV, faz com que as visitas do blog disparem automaticamente. mas há muito bom blogger que foi criando a sua reputação por aqui e cujas opiniões têm tanto valor como as dos opinion makers conhecidos da praça
Eu sou o Gomezzz desde 1996 no IRC depois no ICQ e agora no MSN e afins...
Tive outros 2 ou 3 paralelos para blogs e MSN...
E apesar de ser um nick é conhecido quem sou e que não conhece não lhe é dificil descobrir...
gomezzz,
precisamente.
tu és um dos tais velhos lobos do cyberespaço
Blá blá blá, tretas….
A forma como cada um chegou à Internet e se divertiu ou continua a divertir-se (legitimamente) com a sua possibilidade de disfarce nada tem a ver com a matéria abordada por pelo sr. Pacheco Pereira. Trata-se de definir um enquadramento de hombridade na troca de opiniões por cidadãos livres numa sociedade livre.
Se não é para a chalaça, para o gozo, para o regabofe impunemente exercido, não há razão que nos prenda ao anterior disfarce de foliões. Afinal somos todos cidadão livres com direito à opinião – ou temos vergonha dela?
Quanto á treta de que isso é a mesma coisa pois de qualquer modo nem somos conhecidos como os das “tertúlias blogosféricas dos amigalhaços de Lisboa”, hehemm isso nem merece o esforço de uma resposta mas… deixo aqui o meu esforço em forma de citação:
«O que torna estas situações pós-modernistas? Cada uma caracteriza-se pelo distanciamento de uma realidade cuja ausência não foi ainda sentida. Assim, vão corroborar o dogma pós-modernista de que a nossa percepção do mundo se baseia, acima de tudo, em imagens interpostas. Cada uma defende a noção de que vivemos em função da influência de uma mitologia que chega até nós através dos mass media, do cinema e da publicidade.» Hearney
nuno,
obrigado pelo teu esforço em exprimires as tuas ideias pelas palavras de outra pessoa
vejo que não percebeste a minha argumentação. o ponto essencial de discórdia com o JPP prende-se com a motivação para usar os nick names. JPP acha (ou percebi eu isso) que os nick names são apenas uma forma de inimputabilidade. Eu discordo e explico que o nick name pode ter muitas origens e, na maioria dos casos, resulta até de um determinado percurso da pessoa.
e se fores a ver, a questão do nome é nick name até acaba por ser uma questão de mérito. ou parece-te que, se o Pacheco Pereira ou o Vasco Pulido Valente (por exemplo) tivessem um nick, os seus blogs teriam tanta visibilidade? possivelmente acabariam por ter porque têm elevado valor intrínseco, mas ainda demorava algum tempo. já por exemplo o Pipi ganhou notoriedade por aqui e acabou por se tornar um fenómeno até fora deste meio. qual é o interesse de saber quem é o pipi? só uma curiosidade, mesmo, a sua escrita tem valor per si.
e, no fundo, é essa a questão. se as opiniões e os textos têm valor acabam por ser reconhecidos, quer sejam escritos pelo Jorge Miguel Lopes Castro ou pelo naked sniper (e vice-versa)
sr. Sniper,
Penso que percebeste mal: eu não tenho nada contra os nick names. Penso que é ridículo acreditar que eu ou o JPP não compreendamos a origem dos nick names.
O facto de exemplificares com o autor do “meu pipi” revela que não estás a perceber a base da argumentação de JPP (que eu já partilhava): é que diz respeito exclusivamente à troca pública de opiniões entre pessoas (discussão).
É evidente que fora desse contexto o JPP não terá qualquer objecção a que a tua mãe te trate por Zéquinha, que os artistas mudem os seus nomes para mais sonantes (tipo Woody Allen), que os escritores usem pseudónimos paras as suas ficções, que o Biker074 engate a bluebelly pelo Mirc, ou que o pipi ou o naked sniper criem um blog para lá depositarem os seus devaneios. O que já não será tão razoável é que alguém apareça num fórum (discussão pública) a mandar uns bitaites com um nome inventado.
Sendo que alguns blogs promovem temas à discussão e que todos os blogs são públicos conclui-se que parte da blogosfera é como um grande fórum. Nessa parte supõe-se alguma hombridade e o mínimo que se exige é que assines com o teu nome de cidadão.
Mas como tu dizes, se tu não és conhecido, que diferença faz pôr lá o nome verdadeiro ou outro inventado? O que interessa no final é a opinião em si, não é? Não.
A opinião é talvez a coisa mais privada que um ser humano pode ter. E como privado (único) tem uma identidade, é a nossa. Mesmo que haja nestas discussões muitas opiniões perecidas, quase coincidentes só cada um por si pode decidir que opinião dar ou sequer se tem opinião. É importante usar os instrumentos mais poderosos que existem (no caso o nosso nome do registo civil) na sua valorização.
De qualquer maneira a nossa opinião é só uma -seja numa entrevista para o telejornal, num artigo para um jornal ou noutro media qualquer. Porque havemos de usar o nosso nome específico de internauta para a dar?
-Preferimos simplesmente esse nome? Pode-se tratar disso no registo civil.
-Temos vergonha do que pensa a nossa cabeça? Isso é mau, mas trata-se no psicólogo.
-Queremos usar o nome para avacalhar as discussões e para insultar? Essa é de facto uma praga na blogosfera para quem já se deu ao trabalho de ler alguns comentários por aí. Não há solução para isto e é a critica justa que JPP faz.
Porque não assinar o trabalho de mestrado com naked sniper? E a tese de doutoramento com outro nick que se prefira na altura? O que interessa são as ideias não é? Nós somos incógnitos, não existimos enquanto não aparecermos na Caras…
A questão que levantaste sobre o mérito parece-me completamente assessoria mas…
Eu não vejo mal nenhum que a notoriedade de uma pessoa possa transitar para o ciberespaço e vice-versa.
Pelo contrário, acho que se desejarmos que cada vez mais essas duas realidades se separem (a real e a virtual) estaremos a promover a alienação já bem presente de uma parte da vida das pessoas.
Pessoalmente prefiro saber imediatamente que tal e tal fulano que eu leio na Internet é tal e tal fulano que eu conheço dos media. Visto que de qualquer maneira a minha relação com essas pessoas reais já é suficientemente mediada e artificial não desejo que esse factor se acentue. Faz sentido que qualquer pessoa bem intencionada deseje que esses universos se aproximem.
De qualquer forma é lógico que as qualidades que destacaram alguém nos jornais ou na televisão se mantenha quando essa pessoa aparece noutro media.
De qualquer forma essa notoriedade traz os seus problemas para os próprios sendo que estão sujeitos a um crivo de exigência muito mais apertado. Em cada aparição a sua reputação está sob análise. Tu próprio terás sido dos primeiros a criticar VPV logo na sua primeira aparição. Se fosse o José Ninguém não te darias ao trabalho.
Experimenta escrever «eu acho que o João Jardim é um facho badocha» a ver o que acontece….nada… a televisão e os jornais não te vão chatear por isso.
Por fim o argumento mais tosco, que incrivelmente foi invocado é o da afectividade, ou habituação ou inércia: «Ah porque eu já desde o saudoso ano de 96 que uso este nick, e tal. E tive-o em tal e tal fórum, mirc e etecetera». Ora para os que infelizmente têm este espírito resta-me esperar que eventualmente cresçam e que eu assista sorridente a essa evolução.
P.S.: Há uma série de formas de manter o nick para umas coisas e usar o verdadeiro nome para opinar – inclusive usar ambos no mesmo blog. Se for necessário eu enumero-as.
e pronto...
este gajo vai-me obrigar a escrever
mas só amanhã, que ainda tenho coisas a acabar hoje
eu vou estar cá para ler...
ai, a pressão
:D
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