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19 abril 2006

Então, correu bem?

Ainda não percebi bem se é por genuíno (ou fingido) interesse ou apenas para criar/aprofundar empatia com os alunos (e, especialmente, alunas) que faço sempre a pergunta que dá título a este poste quando algum aluno entrega o seu exame ou teste.

O que já percebi bem é as respostas que recebo. Não me lembro da última vez que alguém me disse que uma prova lhe tinha corrido bem. Desde que me lembro, as respostas variam apenas entre o correu mal e o nem sei e respectivas variantes. Para o correu mal, as variantes são "correu muito mal", "não correu nada bem", "vou já começar a estudar para recurso", "nem dá para oral", etc. Para o nem sei, as variantes podem ser muito mais criativas, desde o futebolístico "prognósticos só no fim do jogo", ao descomprometido "agora é consigo" (mas não), passando pelo "nem sei o que fiz" (o que muitas vezes é verdade. Ou melhor, eu é que não percebo o que eles fizeram), pelo "não estava nada à espera disto", pelo católico "seja o que Deus quiser", etc.

No entanto, o que é mais interessante é que o que eles dizem não tem necessariamente relação com o que eu depois verifico.

Os que dizem que correu mal podem-se enquadrar em três grupos:

- os sinceros e lúcidos que têm noção da matéria, do que era pedido e do que não sabiam e a quem, de facto, a prova correu mal mas que, em recurso e com mais estudo, não terão grandes problemas em fazer a cadeira.

- os desligados que não estudaram, não perceberam as questões, não escreveram nada de jeito (embora por vezes sejam capazes de o fazer por longas páginas que me fazem questionar a minha escolha de carreira) e muitas vezes nem sabem bem qual é a cadeira que estão a tentar fazer.

- e os (normalmente meninas) que gostam de dizer que correu mal (embora sabendo o contrário) apenas para se vitimizarem, criarem empatia e receberem miminhos.

Quanto aos que dizem que não sabem como lhes correu, podemos encontrar 2 sub-espécimes:

- os que que têm noção da matéria, do que era pedido e que não sabem de que forma o nível a que aprofundaram as suas respostas (por limitação de tempo ou conhecimentos) será valorado.

- os que estudaram a matéria muito pela rama e despejaram o que decoraram sem saber se era bem isso que era perguntado, tendo inclusivamente replicado erros ortográficos dos apontamentos emprestados por onde estudaram e inventado palavas quando não percebiam a caligrafia do autor.

Apesar disto tudo, o que me irrita mesmo é aquele que depois vai ver o exame porque não percebe porque só teve 3 ou 4 e diz pérolas como:

"está bem que não era isto que era pedido, mas escrevo 4 páginas e não me dá nem um valor?"

Deus os abençoe!!


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8 Comments:

At 8:16 da tarde, Blogger Madalena Duarte said...

De facto escreverem tanto e nem um valorzinho? :)
Pois os meus no ano passado diziam quase sempre que lhes tinha corrido bem e depois lá se lixavam grandemente. Enfim, mais vale refrear desde logo as expectativas

 
At 8:20 da tarde, Blogger naked sniper said...

eu acho que é uma questão de defesa da imagem

dizendo que correu mal ou que não sabem como correu tudo o que vier é melhor do que o esperado (ou divulgado como esperado) e assim saem sempre por cima aos olhos dos outros. o pior que pode acontecer é as suas previsões (públicas) baterem certo, o que acaba por ser algo positivo para a sua imagem

 
At 4:12 da manhã, Anonymous Anónimo said...

de facto...mas também há a hipotese de terem medo de se armar em espertos e dizer que «correu lindamente» e sofrer um escrutínio especial.
Quanto à muita_quantidadeXnenhum_conteúdo toda a gente sabe que o resultado é zero...mas um padrão que verifiquei é que quanto mais inseguro o professor é de si e da sua disciplina mais valor dá a este "esforço" acabando mesmo, em casos extremos por valorizar apenas a quantidade, até porque o próprio professor não sabe o que esperar nas respostas às suas perguntas.

Cito dois exemplos extremos para não ser só falar de alto:
Paulo Varela Gomes (o melhor professor do departamento) é conhecido por passar por cima da palha que os alunos escrevem e dar zero às respostas que merecem.(no entanto a sua pauta é bastante ampla - vai desde o 2 ao 19)

Reis Cabrita (que dá aulas a olhar para o chão ou para o tecto - não, não é sobre sexo) o melhor aluno no meu ano (teve 13) é conhecido por enrolar e meter muita palha e eu tenho a consciencia que fui lá preparado para fazer o mesmo e safei-me. Tanto nós como o professor não percebemos muito bem o que andámos lá a fazer mas temos todos a forte convição que não é agradável.

 
At 11:06 da manhã, Blogger naked sniper said...

sim, essa é uma forma que alguns professores menos seguros encontram para se proteger

e não, não é agradável para ninguém

tens que voltar a aparecer nas aulas dele e fazer perguntas difíceis só para chatear. já fizeste a cadeira e tudo...

 
At 10:31 da tarde, Blogger MN said...

"dizendo que correu mal ou que não sabem como correu tudo o que vier é melhor do que o esperado (ou divulgado como esperado) e assim saem sempre por cima aos olhos dos outros. o pior que pode acontecer é as suas previsões (públicas) baterem certo, o que acaba por ser algo positivo para a sua imagem"

Bela análise, de acordo!

...

Até porque às vezes eu caio nesse comportamento... :D

 
At 10:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

eu não teria problemas de fazer as perguntas difíceis quando frquentei a disciplina mas o problema é que fui lá uma ou duas vezes e quase que levei falta de material por não trazer almofada e adormecer em cima da secretária...depois dessas tentativas conclui que era uma disciplina dura demais para mim (ou pelo menos o tampo da secretária era).

 
At 12:46 da manhã, Blogger naked sniper said...

mário,

obrigado

eu também faço isso às vezes (e acho que toda a gente o faz ou fez alguma vez). é a natureza humana

 
At 12:48 da manhã, Blogger naked sniper said...

nuno,

eu trazia sempre comigo o "kit aulas 100% cool" que incluía:

- almofada insuflável

- baralho de cartas

- batalha naval

- revista playboy

- buzina a gás

 

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