A Dona Rosa

A minha mulher a dias chama-se Dona Rosa. Quer dizer, ela deve chamar-se Rosa qualquer coisa, mas eu trato-a por Dona Rosa (e ela trata-me por menino). Já agora, apra não haver confusões, eu designo por mulher a dias uma empregada doméstica que vem a casa uma vez por semana (no caso, à quinta-feira) e lava roupa, limpa a casa, passa a ferro, encrava o aspirador e faz outros tipos de serviços que não vou referir porque também não sei bem o que raio ela faz na minha ausência.

Bem, como eu sou um gajo radical que até entra numa de comunismo e direitos dos trabalhadores, acedi ao pedido da Dona Rosa de ter 2 semanas de férias (em que suponho que vá lavar roupa, limpar, passar a ferro, encravar aspiradores e outras coisas a uma qualquer estância turística da moda). Afinal, eu nem iria estar esse tempo todo em casa e não sou tão badalhoco como às vezes as pessoas pensam.

Só hoje de manhã é que percebi o disparate que tinha cometido. Tinha acabado de vestir os boxers quando me dirijo à gaveta das meias (fica por baixo da gaveta dos boxers) e constato que as meias que estava a tirar eram as últimas da gaveta, que é como quem diz, eram as últimas lavadas. A minha primeira reacção foi "preocupo-me com isso amanhã" (nem de mim próprio sou amigo). Mas depois vi que isso não era boa ideia.

Como não sou assim tão radical que vá sem meias trabalhar, compreendi que tinha apenas duas opções: ou ligava à Dona Rosa ou tinha que passar no Continente (passo a publicidade) para comprar 2 novos pares de meias (para amanhã e quinta, que sexta já terei a minha gaveta das meias cheinha até cima).

Como me apercebi de que não sei o número da senhora, a escolha ficou facilitada.