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13 novembro 2006

Maçada à bolonhesa

Julgo que todas as pessoas com olhos e ouvidos, por mais eremitas ou menos interessadas que sejam, já terão ouvido falar no “processo de Bolonha”, uma reforma do modelo de ensino superior a nível europeu.

A priori, o processo de Bolonha apresentava-se como uma excelente oportunidade. Pretende aumentar o reconhecimento intra-europeu das formações superiores dos vários países, estimular e garantir a mobilidade de estudantes e licenciados e, o mais revolucionário e desafiante de tudo, revolucionar (uniformizando) os formatos e as metodologias pedagógicas do ensino superior.

No entanto, o que se verifica é algo bem diferente. Em vez de aproveitar esta oportunidade para debater a sério a missão das escolas, os modelos de ensino, as expectativas e necessidades dos alunos e do mercado de trabalho, o que as escolas que eu conheço têm feito é assumir uma postura reaccionária e defensiva.

Em vez de debate saudável e produtivo que deveria existir, tem-se optado por não discutir e por não mudar o conteúdo, alterando apenas ligeiramente o “embrulho” o suficiente para dar ideia de que “aquilo” já está dentro do “modelo de Bolonha”. O desenho dos planos de cursos a 3 anos não se baseia numa análise das competências de que necessitam os alunos, mas sim em guerras entre departamentos e áreas científicas para garantir disciplinas e peso nos cursos. A definição dos ECTS não se faz analisando as cargas de trabalho dos alunos, mas sim, mais uma vez, com base em guerras , negociações ou uma mera conversão “automática” dos créditos clássicos.

Enfim, um processo que se queria inclusivo e participativo (nomeadamente pelos alunos), continua a ser feito de dentro para fora, de forma autista, subvertendo completamente a lógica de algo que podia e devia ser bom para todos.


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6 Comments:

At 11:08 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Engraçado, sniper, pensei no mesmo quando vi o que não foi feito no meu curso.
Tinha a inocente esperança que "aquilo" ia mesmo ficar com cadeiras que servissem para alguma coisa em ambiente real, que não é de todo o académico.
No fundo, é sempre a mesma merda do PREC k não termina, uns quantos coorporativistas inflamam os seus propositos e a razão de existir de um polo universitário vai para o caralho por que ensinar para competir não é ali, ali é "la grand culture", coisas que nós comuns mortasi só acedemos uma vez na vida e nunca mais serve para nada.
Mesmo.
Abraços

 
At 11:24 da manhã, Blogger SCruz said...

http://coisasdesagregadas.blogspot.com/2006_08_01_coisasdesagregadas_archive.html

Algumas coisas mudaram, mas como sempre em vez de simplificarmos, que era o espirito inicial deste projecto Bolonha, voltamos a buocratizar e em alguns casos a complicar.

Mas aqui andamos a aplicar Bolonha faz uns bons 3 anos para o 4º! A experiência tem sido "Feliz" nas novidades excepto "uns casitos pontuais" q falamos..lol

S.

 
At 12:55 da tarde, Blogger vanus said...

Hum...hum, a quantidade de auxiliares que dão apenas seis horas por semana e publicam em média um artigo por cada dois anos...e trazem para casa 3 mil euros no mínimo por mês... pá, como é, se os alunos depois não escolherm continuar após os 3 anos?
Foi pouca a guerra para lhes meterem as cadeiras nos 3 anos (mas convenhamos muitos deles lá se esforçaram para trabalhar alguma coisinha)

Olha eu que bati ao pc três reestruturações (um gajo tem que ganhar dinheiro, já que os profs estão sp mt ocupados e felizmente o dinheiro de projectos serve tb para isto), assisti bem de perto que nalguns casos (não vou dizer em todos, claro), os alunos e a qualidade do ensino são a coisa que menos importa.
Infelizmente, é como dizes, quem está por dentro percebe bem, que no meio disto tudo se subverteu totalmente uma coisa que poderia ser boa para todos, tantos para os alunos (pelo tipo de ensino e oportunidades futuras) como para o melhoramento da investigação em portugal...

vai ser lindo, até porque o secundário tem lacunas monstruosas em relação à entrada na faculdade (que a maioria dos prof univ nem sequer sabe) e depois há também o mercado de emprego, que não creio estar preparado para lidar com alunos que saiam com um ano a mais, por exemplo. Nunca se trabalha em equipa, é cada um no seu feudo e o resto que se dane...

Ainda me lembro que qd começou o erasmus, íamos para fora e perdíamos um ano inteiro às vezes por falta de equivalência, pq os senhores professores não se davam ao trabalho de ler um trabalho que não era feito em português, não se davam ao trabalho de fazer algum trabalho extra, embora como sabes, este tipo de interacção possa vir a ser mt interessante e benéfico em termos de colaborações postriores. Isso mudou, felizmente, pode ser que daqui a uns 10 anos, se os profs começarem a ser avaliados como estão a começar a ser, a coisa mude também.

 
At 1:19 da tarde, Blogger naked sniper said...

t?,

é mais ou menos isso, mas aqui nem é sequer "grand culture", são as cadeiras que certas e determinadas pessoas dão, sempre deram, e que mais não sabem dar. e, em vez de se reciclarem as pessoas e se dotarem de competências para ensinar algo com interesse, o que se faz é o inverso

 
At 1:23 da tarde, Blogger naked sniper said...

s.,

nós aqui é sempre na última, e à rasquinha

 
At 1:24 da tarde, Blogger naked sniper said...

vanus,

concordo plenamente

e as merdices com ERASMUS tb me irritam bastante, até porque sou o coordenador e os professores aqui têm demasiado poder na concessão de equivalências (tem q ser o professor da cadeira a dar, enquanto que noutras escolas é o coordenador de curso que trata disso)

 

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