28

Daqui a umas horas (mais precisamente, às 23h50), completo 29 anos de idade.

Há uma coisa que eu sempre dizia que era boato e mistificação, mas que agora vejo que é verdade. Com o aproximar dos 30, um gajo apanha a mania de fazer balanços por tudo e por nada. Assim, vou aproveitar a oportunidade para fazer um balanço deste ano em que eu tive a bela idade de 28 anos.

Começando pelo mais importante, foi com 28 anos que eu conheci a mulher da minha vida. Ou, pelo menos, assim o pensei. No entanto, como tem acontecido com todas as minhas certezas (sou bué da alto, a terra é quadrada, é perfeitamente seguro enfiar os dedos molhados nas tomadas de electricidade) também esta acabou por “bite me in the ass”, que é como quem diz, desconfirmou-se e, ainda por cima, deixou-me todo queimado. É certo que eu já conhecia a Sofia antes de fazer 28 anos, mas foi com 28 que eu percebi que queria muito passar o resto da vida com ela. Infelizmente, ela não quis passar o resto da vida comigo e, sinceramente, ninguém a pode censurar por isso. Ainda assim, passei alguns dos melhores meses da minha vida à conta dessa agradável ilusão. É certo que o final me foi muito penoso mas, enquanto durou, foi muito bom. É isso que retenho, que os meus 28 anos foram bem melhores com ela do que alguma vez poderiam ter sido sem ela.

Com 28 anos fui também bastante surpreendido por demonstrações de apreço e fé da parte de alguns amigos meus. Imaginem que me chegaram a pedir conselhos sentimentais! Isto é, naturalmente, apenas mais uma indicação de que tenho que arranjar amigos em condições. Ou os meus amigos são tão desorientados que não têm o discernimento para perceber que eu não sou, mas de forma alguma, uma pessoa minimamente indicada para ajudar com esse tipo de questões ou não conhecem ninguém com um perfil mais indicado. De qualquer das formas, não é com este tipo de gente que eu me quero relacionar. Neste último ano também alarguei o meu leque de amigos. O que não é particularmente difícil, visto que só tinha dois

Com 28 anos fiz algumas viagens interessantes e conheci alguns sítios novos (Roménia, Áustria, Lille, Jamaica). Aproveitei oportunidades que foram surgindo e há que agradecer ao Sr. Erasmo, que possibilitou metade destas viagens. Também com 28 anos optei por não aproveitar outras 2 oportunidades (Girona/Barcelona e Finlândia) para ficar com a Sofia. Uma vez que Girona e Finlândia lá continuam à minha espera e a Sofia já não, parece que tomei a opção correcta.

Em termos laborais estou bastante contente. Sinto que tenho evoluído em termos pedagógico, e que crio agora mais valor para os alunos que há um ano atrás. Também o facto de ter apanhado alguns alunos interessados e com potencial tem ajudado a essa satisfação. Fui surpreendido com algumas demonstrações de confiança de outros colegas (convites para o pedagógico, para 2 comissões, para a direcção de uma associação, etc.), o que só ajuda a inchar o meu ego (já mal caibo na roupa). Fora da escola também fui desafiado para alguns projectos aliciantes e não consegui dizer que não. Já consigo dizer que não é aos alunos que me convidam para orientador de estágio. E tem que ser, senão tinha agora uns 30 orientandos e isso não era bom para ninguém. Já agora, se alguém souber de algum esquema para esticar os dias, dava algum jeito, que 24 horas começam a ser curtas.

Aos 28 anos aderi também a uma nova religião. Foi também com 28 anos que passei por uma pequena crise (mais uma) na minha relação com a Igreja Católica. Felizmente, existem ainda os Jesuítas (sempre em grande), os franciscanos (agradável surpresa) e alguns bons samaritanos do Opus Dei que me conseguem fazer aquilo que o clero secular parece que já não consegue. Mas Deus é tão bom para mim, que nunca lhe conseguirei virar costas.

Com 28 anos também descobri muito boa música, vi alguns bons espectáculos (só me arrependo do Cats – 40 € que nunca mais vou ver. NUNCA MAIS!!! Mais valia ter queimado o dinheiro que, pelo menos, dava um efeito visual engraçado. No outro extremo está o concerto dos Gotan Project) e alguns grandes filmes (incluindo, pela 1ª vez, o “Cidade dos anjos”). Continuo a comprar mais livros do que consigo ler. Mas, se chegar à reforma, já tenho com que me entreter. E, pormenor não despiciendo, as gajas ficam sempre impressionadas com a minha estante (é de carvalho maciço, estilo antigo, bem bonita).

Curiosamente, ainda não foi aos 28 anos que fui internado com insuficiência renal nem com cirrose. Não sei o que é que se passa, tenho ido aos treinos, dou-lhe com alma, e nada.

As grandes manchas dos 28 anos foram o ter adiado a conclusão da tese e não ter dado a companhia e apoio devidos aos meus pais. Mas, nesses aspectos, os 29 anos serão o ano da redenção.

Resumindo e concluindo, foi excelente ter 28 anos. E, se Deus quiser, ter 29 vai ser ainda melhor. Se não for, um gajo bebe até que pareça que sim.