divã

Nunca soube bem o que queria da vida. Nunca me preocupei muito com isso. Sempre fui um pouco diletante.

Quando nos conhecemos, a minha Sofia ficou encantada com a minha forma despreocupada de levar a vida. Quando acabámos, essa era já umas coisas que ela criticava em mim.

Entusiasmo-me facilmente com as coisas e com as pessoas. Mas também perco esse entusiasmo.

Talvez finja às vezes mais entusiasmo do que aquele que verdadeiramente sinto, para parecer, ou apenas para me sentir, mais normal.

A minha vida tem sido um saltar de ilusão em ilusão, de pessoa em pessoa. Tomo quase sempre as decisões erradas. Porque não pondero devidamente as coisas ou porque decido ignorar as minhas próprias ponderações e os pouco momentos de bom senso que às vezes tenho.

Desde Dezembro que não me lembro de nenhuma sensação ou sentimento forte, sério. Pareço adormecido, anestesiado. Como que se estivesse apenas a assistir à minha vida. Nada me afecta muito, para bem ou para mal.

Trabalho muito e muitas vezes mal. Fujo aos sentimentos, tento não pensar muito nas coisas. Desenvolvi um gosto por desportos radicais. Dizem-me que ando de mota depressa demais. Durmo pouco, dói-me o corpo, sinto-me cansado, pareço um perfeito tosco a jogar basket. Não leio, vejo poucos filmes. Dedico-me à procrastinação.

Terça-feira vou buscar o frigorífico.