A custo

Estava a ver que não conseguia vir trabalhar de tarde.

Fui almoçar a casa e, no regresso, ao ir para o carro, fui apanhado na teia do meu vizinho SR.

O meu vizinho SR é uma espécie de Lobo Antunes, mas em chato e com 1 "qué-se dizer" por frase. É parecido com o Lobo Antunes porque também tem cabelo branco e mau gosto para a roupa. E, claro, porque quando começa a falar do tema x, quando damos por nós, já passou pelo Y, Z, F, T e o catano e nós a querer ir à nossa vida e a não conseguir interromper. Da última vez que ele me tinha apanhado, só me consegui libertar após 2 horas e porque a mulher dele o chamou para jantar. Na vez anterior, foi uma granizada que me salvou.

Hoje fiquei a saber que foi operado à bexiga em Julho e vai ser operado à próstata em Dezembro, fiquei a saber do que pagou de IMI e IRS (levam-lhe mais de 60%, os bandidos), das doenças dos familiares todos até ao terceiro grau, da garagem que quis vender e agora já não vende porque precisa dela, mesmo tendo-lhe um senhor oferecido 4 mil contos, que ele queria pagar às prestações para não ter que pedir um empréstimo, ao que ele lhe respondeu, "Meu amigo, agora preciso dela, qué-se dizer, e não a vendo por dinheiro nenhum", ao que o outro retorquiu, "mas teve-a à venda durante tanto tempo", pois foi, mas na altura, qué-se dizer, precisava de dinheiro para umas obras e não me queria descapitalizar, e agora preciso da garagem para arrumos, qué-se dizer...

Para a próxima, já sei. Nunca mais estaciono atrás do prédio ao pé da garagem dele. Nem que dê 3 voltas ao bairro e deixe o carro a 2 kms. Perco menos tempo e não sinto os cabelos brancos a crescer.