Cap. 7: xung, o homem do clio
“O proprietário do Renault clio cinza de matrícula 54-69-XM com um néon azul por baixo é favor dirigir-se ao seu veículo”
“O proprietário do Renault clio cinza de matrícula 54-69-XM com um néon azul por baixo é favor dirigir-se ao seu veículo”
- Mèrde! Mèrde! – tenho que bazar.
(…)
- Grade de cerveja. Pip! Comida para cão gourmet. Pip! Compressas. Pip! Taco de beisebol. Pip! Caixa de clips. Pip! Champô. Pip! Collants opacos. Pip! Luvas de cozinha cor-de-rosa. Pip! Estetescópio. Pip! São 78,45 euros. É um conjunto de compras muito curioso.
- A sua mania de dizer em voz alta as compras que vai passando na máquina também é curiosa e não foi por isso que eu fiz comentários parvos, pois não?
(…)
- Desculpe lá, ó chefe, não reparei que precisava de 5 metros para passar com o carro. Realmente, se se encostasse muito e abrisse uma porta era capaz de bater ou de riscar o carro – “Cromo do cara*%&. Passavam aqui 2 carros à larga e ele foi chamar a segurança e quase que me rebocavam o carro." E meteu-se à estrada. Tinha acabado de chegar de França e estava cansado. Mas ainda faltavam alguns quilómetros para poder descansar.
Pôs-se a caminho, naquela estrada serpenteante que tão bem conhecia. Era esse conhecimento que lhe permitia abordar as curvas a uma velocidade claramente superior à recomendada. O néon azul, com a velocidade, deixava um ligeiro rasto à passagem do clio, criando a ilusão de uma chama azul.
Subitamente, xung notou uma outra chama azul, mas esta, embora também em movimento, encontrava-se algumas dezenas de metros acima de si. E parecia aproximar-se. A chama persistiu no campo de visão de xung durante alguns minutos, dando a ideia de seguir na mesma direcção, embora mais depressa, e de estar a descer. Até que desapareceu do campo de visão de xung.
Curva à direita, terceira a fundo, pneus a chiar ligeiramente e, subitamente, vinda do nada, uma imensa luz azul. Uma luz tão intensa que cegou xung ao ponto de o colocar inconsciente. Quando acordou, xung estava deitado numa espécie de marquesa. Não estava amarrado ou preso, mas não se conseguia libertar. Estava nu, embora calçado. E voltou a ser cegado pela luz azul.
Quando voltou a acordar, estava no seu clio, parado num estacionamento à beira-mar. Continuava nu, embora calçado. O sol tinha acabado de nascer. Xung dirigiu-se à mala do clio para procurar algo para vestir. Apenas encontrou os seus speedo e uma t-shirt do sobrinho, que lhe ficava ridiculamente justa e deixava o umbigo à mostra.
Dirigiu-se a uma estabelecimento comercial que se vislumbrava no outro extremo do parque. Atendeu-o um jovem de calças de padrão havaiano e uma t-shirt quase tão justa como a de xung.
- Olá, sou o Filipe, o que deseja?
- Era um café e umas informações.
- Sou Capricórnio, faço capoeira, adoro dançar e sou fã dos filmes da Guerra das Estrelas. Tenho os DVDs todos.
- Não era bem esse tipo de informações que eu queria
- Pois não devia ser, não, ó vaca. Eu também arranjo bem melhor do que tu. E sem essa barba nojenta.
“Barba? Que barba, eu nunca tive barba na minha vida, e bem que fiz por isso.” Mas mal tocou na sua face, conseguiu perceber que o Filipe tinha razão. Tinha uma barba espessa e farta. “Só pode ter sido…” E foi aí que xung se lembrou de outras coisas da noite anterior. Nunca mais se lembrou foi do café que tinha pedido. Quando Filipe o trouxe, xung já estava a acelerar pela estrada acima.
- Grande cabra! – ainda se ouviu sair da boca redonda e bem cuidada de Filipe.
(…)
“É aqui o local. Ainda tenho 8 minutos”, pensou xung enquanto colocava o CD da Gloria Gaynor no leitor.
8 minutos depois surgiu aquele por quem xung esperava.
- Tenho estado à tua espera.- disse-lhe.